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Bate-papo com a bailarina e coreógrafa Gabriela Moriondo

Bate-papo com a bailarina e coreógrafa Gabriela Moriondo

Olá pessoal!

É com muita alegria que o nosso blog traz para vocês mais um bate-papo, dessa vez com uma artista capixaba.

Hoje a nossa conversa é com uma bailarina extremamente talentosa, expressiva e inteligenteGabriela Moriondo. Nascida em uma família muito artística, possivelmente foi inspirada por sua mãe e suas tias, que também dançaram.

Ela iniciou seus primeiros passos na dança aos 3 anos de idade, na Escola de Dança Lenira Borges, em Vitória/ES e aos 15 anos ela tinha decidido que a dança seria a escolha certa como profissão e que qualquer outra carreira um pouco mais “formal” não se encaixaria bem em sua vida.

 

Na busca pela profissionalização, ela encontrou, aos 16 anos, a escola do Teatro Bolshoi, em Santa Catarina,quando fez uma audição para o curso técnico de dança contemporânea, e assim teve sua experiência de três anos, morando sozinha, vivendo das maravilhas e dificuldades da dança, conhecendo suas próprias fraquezas e fortalecendo suas coragens.

Hoje, aos 24 anos de idade,  ela vem se destacando no cenário da dança e recebendo o merecido reconhecimento pelos trabalhos que tem apresentado. Recentemente, teve dois projetos aprovados pela Secretaria de Cultura/ES,como coreógrafa: (des) Equalizar para a Companhia Reverence, e o “Cyber, com a participação do bailarino Maicom Souza, ambos de uma beleza indescritível.

Confira nossa conversa, onde Gabriela nos conta um pouco de suas experiências e sua imensa paixão peladança contemporânea.

Armando Barros

 

AB – COMO SURGIU O INTERESSE E AOPORTUNIDADE DE ESTUDAR DANÇA FORA DO BRASIL?

GM - Logo depois que eu me formei no Bolshoi,  voltei pra Vitória e fiquei por 6 meses,  quando eu me inscrevi pra uma especialização em Londres, no Trinity LabanConservatório de Música e Dança, e fui selecionada paraum curso de 1 ano em estudos de dança e então parti.

Morar sozinha dessa vez foi um pouco mais complicadoporque além da distância maior tiveram elementos culturais que me causaram um estranhamento, o que me fez sentir muita falta do Brasil. Mas a experiência na Europa foi incrível por diversos motivos, como o fato de poder  conhecer pessoas do mundo inteiro e também pela oportunidade de estudar as teorias de Laban, um estudo que me norteia até hoje. Isso foi de um valor inestimável pra minha dança e meu crescimento profissional. Lá eu tive a oportunidade de estudar diversas matérias, como Anatomia da Dança, Coreografia, Ensino da Dança e tudo isso foi me agregando e construindo minha subjetividade e meu corpo.

Laban é famoso por ter a maior biblioteca de dança da Europa. Foi um momento de imersão nos estudos, eu quase não saía do Conservatório, fiquei obcecada.

 

AB – POR QUE VOCÊ VOLTOU PARA O BRASIL?

GM Eu voltei para o Brasil porque eu sinto que é o meu lugar. Eu não vejo  voltar para o Brasil, depois de cursar dança fora, como algo ruim. Os motivos são vários, eu me sinto bem no Brasil, sou feliz, estou próxima da minha família e sinto que, particularmente, em Vitória eu tenho espaço para criar e tenho pessoas que me apoiam. Depois que passei os anos de 2015 e 2016 em Londres, nesses últimos anos que eu estive aqui, consegui crescer muito em termos profissionais, como coreografar, produzireventos, ter aprovações em editais da Secretaria de Cultura, e isso tudo é muito grande, eu não me vejo fazendo isso em outro lugar, porque eu preciso de uma certa segurança e de uma constância pra poder voar, por mais paradoxal que seja.

 

AB – E COMO TEM SIDO A SUA ROTINA E VIVÊNCIA COM A DANÇA DESDE QUE VOCÊVOLTOU DE LONDRES?

GM Assim que voltei de Londres, eu entrei na Companhia de Dança Mitzi Marzzuti e comecei a dar aulas de dança contemporânea na Cridança e noReverence Studio de Dança. Desde que eu voltei, tudo tem sido muito bom, foi um momento de me reencontrar aqui, de conhecer pessoas e compartilhar os meus interesses. Eu tenho também uma paixão por viajar e sigo viajando. Em 2017, eu estive em Israel para fazer um intensivo da linguagem e movimento de Gaga, da Companhia de Dança Batsheva, do coreógrafo Ohad Naharin, outra experiênciaque foi transformadora e em 2018  fui pra Alemanha para participar de um curso de contato e improvisação.

 

AB – COMO É A SUA RELAÇÃO COM A TÉCNICA DE IMPROVISAÇÃO?

GM Entrando no campo da improvisação, eu tenho tentado descobrir o máximo de exercícios possíveis para desmistificar essa prática, que se torna tão prazerosa com o tempo e é uma ferramenta tão eficaz na criação de movimentos sofisticados e identitários, além da descobertade quem realmente somos. É uma prática que eu gosto muito de oferecer e participar. A minha poética tem se desdobrado fortemente na improvisação.

 

AB -  DE ONDE SURGIU A VONTADE DE CURSAR ARTES PLÁSTICAS?

GM Por ter assumido essa trajetória incomum, de não ter entrado na faculdade logo depois do ensino médio, eu decidi fazer o ENEM e passei na Federal do Espírito Santoe essa é uma outra paixão minha. Era hora de me profissionalizar e investir mais nisso.

A arte contemporânea em si é um lugar de muita troca, de inter e transdisciplinaridade e conhecer diversaslinguagens artísticas, trabalhar com vídeo, desenho, pintura, estudar performances, conhecer a história da arte, tudo isso agrega muito à minha dança. Eu não vejo como uma vida paralela cursar artes plásticas, eu vejo como algo que me constitui como artista. A minha arte tem se direcionado para esse campo interdisciplinar, instalando objetos escultóricos, dialogando com a arquitetura, dialogando com a cidade e outros corpos.

 

AB – COMO VOCÊ SE DESCOBRIU COREÓGRAFA?

GM - Desde a época do Bolshoi, eu percebia que eu gostava muito de fazer as coisas do meu jeito e de quebrar as regras. Eu me sentia muito à vontade quando eu podiarealmente me apropriar das coisas. Então a apropriação fez uma grande parte na minha dança. Sempre que eu recebia uma sequência de movimentos, eu tentava encontrar a minha forma de fazer, e essa busca pela minha própria linguagem foi o que me levou a querer criar.

A primeira oportunidade de criar foi quando eu cursei Coreografia no Laban, no que resultou em um solo de oito minutos que eu fiz pra mim mesma e foi um divisor de águas na minha vida, porque aquilo me trouxe tanta segurança eu me senti mais segura pra continuar criando. Comecei então a aplicar alguns processos criativos que eu tinha experienciado, na companhia Reverence, que me convidou pra coreografar pra eles em 2017.

A responsabilidade vem aumentando cada vez mais  com o tempo e eu não paro de ter ideias, não paro de visualizar a dança nas outras pessoas ou no meu próprio corpo, e acho que esse é realmente o meu caminho, pois me sinto muito bem. Eu sigo dançando, mas me sinto extremamente realizada quando eu consigo propor coisas para as outras pessoas. O meu trabalho se dá muito na relação com o outro, e isso se desdobra nos improvisos coletivos, eventos e encontros que eu e outros artistas promovemos.

O ato de coreografar envolve muita colaboração, e isso acontece quando você começa a propor e a ceder às ideiasde outras artistas. Conhecer o processo de outros artistas me alimenta muito.

 

AB – O QUE TE INSPIRA?

GM - O conhecimento me inspira muito. Viajar, ver, ouvir, ler... eu acho que serei uma eterna estudante, curiosa, pesquisadora, e não só no âmbito artístico, mas em tudo. Isso tudo faz parte da geminiana que sou. Eu amo conhecer coisas, pessoas, poder dialogar sobre arte, fazer arte com os outros, colaborar, questionar.

 

AB – COMO VOCE VÊ O CENÁRIO DA DANÇA COMTEMPORÂNEA NO BRASIL ATUALMENTE?

GM - Há muitas fragilidades no investimento  cultural no Brasil. O cenário que passamos é muito triste, mas apesar disso eu vejo um caminho alternativo para continuar existindo e resistindo, e isso me alimenta. Continuar criando e nos unir a pessoas que querem alcançar o mesmo objetivo, é assim que surgem coletivos e é assim que surgem guerreiros. É lógico que o caminho poderia ser muito mais fácil, mas  é importante batalhar por esse espaço que vem crescendo gradativamente, e ao mesmo tempo muito forte, semelhante a uma avalanche, e é lógico que eu quero fazer parte dessa avalanche.

 

AB – O QUE VOCÊ ALMEJA COMO ARTISTA?

GM - Vixi Maria, eu acho que algum dia eu ainda vou descobrir… mas se eu pensar em várias barreiras que a arte vai expandindo, o que eu almejo como artista é expandir junto. Poder me expandir enquanto ser e expandir as pessoas que testemunham e participam dessa arte. Expandir a sensibilidade, o saber, a experiência, o tempo, e o espaço.

 

AB - O QUE A GABRIELA LEVA DA DANÇA PARA A VIDA?

GM - Eu levo muita leveza, alegria, organicidade. Eu amo ser artista e amo a vida que eu escolhi, jamais me arrependerei. Amo dizer pro mundo inteiro que eu sou artista. A dança me dá muita alegria, realização e um sentimento de pertencimento, de estar no lugar e na hora certa. Eu acho que na vida eu sempre estou dançando, mesmo quando eu sento, quando eu me deito, ou quando eu caminho, pois eu vejo tudo como dança, faz parte de quem eu sou.

É uma beleza poder performatizar essa vida.

 


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