Os segredos da saia de uma bailarina de 14 anos - Exposição Degas no MASP
Olá meu povo lindo, tudo bem com vocês?
Aqui é o Armandinho, e hoje eu vim compartilhar um pouco sobre a minha experiência visitando uma exposição de arte, na cidade de São Paulo.
É uma história repleta de arte, envolvendo a nossa tão amada dança, esculturas, e até mesmo figurinos. Segue comigo…
Um encontro emocionante, de bailarino e bailarina.
Antes das minhas férias acabarem, resolvi passar alguns dias em São Paulo, onde eu vivi uma aventura muito especial e introspectiva, uma espécie de “terapia cultural”.
Decidi tirar alguns dias para o famoso “bater perna” na Avenida Paulista e, apesar de não ter programado absolutamente nada, tinha em mente que na minha ida a São Paulo jamais poderia faltar uma visita a um dos museus mais famosos da capital paulista e do país, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP.
A emoção já começou do outro lado da rua. No momento em que vi o nome ‘Degas’, escrito em uma placa ao lado do museu, logo pensei: vou finalmente me encontrar, pela primeira vez, com a “Bailarina de Catorze Anos”, e exatamente assim aconteceu. Ela era a primeira obra apresentada pela exposição e logo quando abri as portas da sala, já me vi em frente a ela. A imagem que, por muito tempo, esteve presente apenas nos meus livros de história e que é apresentada nos museus e exposições mais relevantes do mundo, estava ali diante de mim, só que dessa vez, ao invés de impressa em papel, era a real escultura.
A escultura ‘La Petite Danseuse de Quatorze Ans’ (Bailarina de Catorze Anos), de 1880, é considerada a obra mais importante de Edgar Degas, e uma das obras mais emblemáticas de toda a história da arte ocidental do século 20. Ainda não se sabe muito bem como a jovem bailarina Marie Van Goethem, retratada nessa obra, cruzou os caminhos do artista, apenas cogitam que Degas pode ter conhecido a estudante em uma de suas freqüentes visitas à Ópera de Paris.
Quando a obra foi apresentada, em Paris, numa exposição impressionista, acabou causando um certo choque a muitas pessoas. A maioria dos críticos acharam a peça feia, considerando o rosto um tanto grotesco e primitivo. Bom, a impressão que eu tive foi completamente diferente, meus olhos logo se encheram de lágrimas, quando me aproximei da caixa de vidro e pude perceber a riqueza de detalhes que a obra possui.
Fiquei um bom tempo de frente para a escultura, na tentativa de gravar na minha memória todos os detalhes, para que, ao sair dali, eu guardasse a imagem bem nítida na minha mente. Apesar de o rosto ser algo bem impactante, por sua perfeição, outras coisas chamaram mais a minha atenção, como, por exemplo, o jeito do pé da frente parado em ‘em dehor’, a fita amarrada no cabelo e a forma como a saia se compõe com a parte de cima da roupa.
O Tutu da Bailarina
Depois de passar um tempo observando a ‘Bailarina de CatorzeAnos’, fui apreciar as outras obras de Degas, o acervo do MASP, e vários outros museus que acabei visitando naquele dia. No fim da tarde, ao chegar ao hotel, a emoção de ter encontrado com a Bailarina ainda estava muito forte e presente dentro de mim, o que me motivou a pesquisar mais algumas curiosidades sobre a obra.
Foi quando acabei encontrando um vídeo no YouTube do ‘TheMET’, o Museu Metropolitano de Arte da cidade de Nova York, Estados Unidos. O vídeo é apresentado e narrado por um conservador de figurinos, Glenn Petersen, que conta um pouco como foi o processo de reconstrução da saia da bailarina de Degas no museu norte-americano.
Foi sensacional poder conhecer ainda mais sobre a escultura, pois o conservador relata algumas informações muito valiosas, como, por exemplo, que a escultura de cera, como foi originalmente moldada, tinha uma peruca de cabelo humano.
Somente depois da morte de Degas, que a escultura passou a ser de bronze, uma decisão de seus herdeiros, para preservar a obra. Mas, por algum motivo, a fita do cabelo e o tutu não podiam ser fundidos, por isso foram acrescentados na versão de bronze com material de tecido. Ou seja, a forma como a saia e a fita se apresentam atualmente nunca foi uma decisão do próprio Degas, uma vez que a peça passou a ser de bronze quarenta anos depois que a escultura foi feita.
Mas as curiosidades não acabam por aí, pois o conservador de figurinos, que até então tinha sido chamado pelo ‘The MET’ para reconstruir a saia, acabou descobrindo que o tecido estava em ótimo estado, e que a cor apenas apresentava uma aparência velha, de suja e esfarrapada, porque os herdeiros e responsáveis pela obra de Degas, na época, demonstraram o desejo de que a cor da saia harmonizasse com o bronze escuro da escultura e que retratasse também o tempo que passou desde que foi criada.
A moral da história e o que me deixou muito contente, foi que o conservador teve uma sensação de liberdade criativa para trabalhar com a nova saia. A escultura que fica no Museu Metropolitano de Nova York já estava passando, pelo menos, pela terceira saia, sendo que a última tinha sido feita em 1998. Todas as vezes que a saia foi reconstruída, os “donos” da obra simplesmente colocavam nela algo que queriam, mas que não fugia tanto do que já se apresentava. Isso significa que Glenn pode começar a nova saia do zero. E mesmo com a sensação de liberdade, como todo bom profissional, Glenn estudou muito sobre como as bailarinas se vestiam naquela época. O conservador notou o quanto o tutu era uma vestimenta bufante - em forma de sino flutuante, e decidiu, dentre outras coisas, fazer algo historicamente preciso, como determinar o comprimento até o joelho e escolher usar o tule de seda ou de náilon.
As informações do vídeo fecharam o meu dia e a minha experiência com chave de ouro e me mostraram o quanto a arte renasce de diferentes formas, em diferentes lugares, sendo uma plataforma que absorve inúmeras opiniões, mas acaba, através de suas obras, formatos e representações, emitindo respostas de forma mais natural e justa, para as mais loucas reflexões e questões levantas pela sociedade, em diferentes anos.
Armando Barros Júnior
Informações:
A mostra Degas se insere na programação de um ano dedicado inteiramente às Histórias da Dança no MASP.
No total, 76 obras estarão disponíveis para visitação: 73 peças de bronze, dois desenhos e uma pintura. Os ingressos variam de 22 (meia-entrada) a 45 reais, com entrada gratuita todas as terças-feiras.
Endereço: Avenida Paulista, 1578, São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Agendamento: masp.org.br/ingressos
Horários: terça-feira, das 10h às 20h (entrada até 19h30), quarta-feira a sexta-feira, das 13h às 19h (entrada até 18h30); sábado e domingo, das 10h às 18h (entrada até 17h30); fechado na segunda-feira.